A solidão da mulher que (se supõe) é forte

Eu não gosto de usar aforismos porque eu não gosto de clichês e porque eu acho que eles vão soar falsos de alguma forma. Mas eu não tenho conseguido parar de pensar sobre a máxima que ouvi outro dia:

A solidão da mulher forte.

Penso nisso porque eu estou exausta e sei que é dessa solidão. Só que aí entra o problema da falsidade do aforismo: apesar de eu ser solitária, eu não sou uma mulher forte. Nunca fui.

Eu tenho um monte de referenciais de mulheres fortes e eu não me assemelho a elas nem minimamente. Tenho referenciais de mulheres que travam lutas difíceis, que encaram desafios relevantes, que sustentam vidas... E eu sou o oposto! Eu sou boba, covarde e a única coisa que eu costumo atravessar são os pequenos fracassos de quem não se arrisca em grandes coisas para não enfrentar grandes fracassos.

Eu sei que aí, do lado do observador, às vezes parece outra coisa. Mesmo que eu diga tão clara e abertamente quanto estou dizendo agora, por alguma razão, as pessoas acham que eu sou uma mulher forte. E a mulher forte é aquela que dá conta e que não carece de cuidado.

Então vou apresentar uma hipótese aqui: pode ser que vocês estejam se enganando sobre essa tal dessa mulher. Pode não ser uma mulher forte, só uma mulher que não quer dar trabalho.

Eu sou frágil que só eu! E eu não dou conta. Mas eu tô sempre tentando não ser o cansaço de alguém. Meu esforço constante é o de desobrigar o mundo de mim. E o tanto que eu tento não ser um incômodo me leva a uma insuportável, lancinante e destruidora dor solitária que ninguém afaga, porque ela será escondida tanto quanto for possível. Até explodir. Até desmoronar. E quando eu desmorono, um convite para um café é o único pedido de socorro que eu consigo expressar. E quase sempre vai ser um convite com uma frase que enfatiza a desobrigação do aceite e o quanto sua recusa é compreensível.

Mesmo sendo frágil, eu acabo cabendo tão direitinho na frase que citei ali em cima... Ser mulher forte é solitário demais. E exaustivo. Mesmo que eu não seja forte.

Quem cuida de quem não quer dar trabalho? Quem cuida de quem não vai solicitar nada: nem ajuda, nem abraço, nem ouvido? Quem atravessa essa barreira feita para proteger os outros de sabe-se lá qual problema eu possa trazer?

Quem cuida de quem não deixa rastros de dor enquanto carrega os próprios cacos porque sabe que não deve deixar sujeira para outra pessoa varrer?


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