Fim da poesia

Fiquei matutando ideias para esticar o devaneio o máximo que fosse possível. Maneiras de dar-lhe encanto e ar de novidade para não cansar e desaparecer tão depressa. Para se afixar em mim de alguma forma. Para virar uma marca em meu corpo ou meus hábitos. Para virar traço cotidiano e prender-se um pouco mais no tempo. E para, ao ultimar-se, garantir seu domicílio na memória.
Deixei-me devanear torcendo para meu sono leve não me levar do devaneio ao primeiro som ou ao primeiro raio de Sol e fiquei ruminando formas e fórmulas, estratégias e estratagemas, variando da realidade à fantasia em busca dessa intersecção de mundos que ainda não me havia sido apresentada, mas que poderia ser a solução para resguardar - segundos mais - o devaneio a que me havia apegado.

De súbito, entretanto, livrei-me do esforço da execução dessa árdua tarefa ao ser acordada do devaneio - não pelo meu sono leve, mas pelo acarinhar da realidade. Entre uma xícara e outra de café distraí-me e não notei o mundo em sua verdade: ele ainda era tão simples quanto sempre fora.
O devaneio foi só um segundo de distração.

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