Coffee break

Resolvi deixar abafar - por tempo breve - o som dos mecanismos barulhentos do trabalho da mente concentrada, que nunca se deixa relaxar, e o rangido do corpo tensionado, que se esforça para se manter contido nas couraças. Uma pausa rápida para distração. Só rapidinho. Uns minutos como aqueles raros em que se pode afrouxar o nó da gravata, tirar discretamente os pés de dentro dos sapatos de bico fino e soltar as botoeiras da armadura. Só uma mera distração de apertos. Não mais que isso.

Permiti-me um momento de descanso das constantes concatenações e organizações mentais para experienciar a vulnerabilidade que só acontece durante o tempo em que se aproveita goles curtos de um café quentinho que ainda está soltando fumaça.

Tempo cheio de silêncios internos. Tempo curto que se estica e se alonga. Tempo que faz a xícara durar porque tempo de pausa de café é tempo que corre devagar. Até quando é curto. Tempo lento. O bastante para deixar que se soltem completamente os punhos que se veem sempre cerrados e para que o pulmão consiga expirar o ar do peito que se exibe sempre estufado. Cada curto e lento gole dado é uma fraqueza nova, um músculo mais relaxado, um pensamento a menos.

Findo o café, voltar à realidade: armas, armaduras, força e concentração.
A postos e invulnerável de novo.


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