"É mais ou menos isso. Acho que não mudou muita coisa"


A cidade é coisa pública, é coletiva, é agrupamento. Ela é o ambiente da troca de informação, de pessoas, de bens e de afeto. De memória. E de vida.
Ela designa reunião e identidade ainda que possa ser gigante, e normalmente ela é - às vezes é maior do que pensamos, e quase sempre é maior que nossa imaginação. Mas mesmo gigante, suas fronteiras estão bem delimitadas nos territórios de nossos corpos, nossos seres e nossos saberes.
É parte fundamental da vida das pessoas que nela habitam: é o nosso mundo.

Cidade é construto coletivo. É a marca e matriz de quem somos e enquanto conta nossa história vai construindo, ela mesma, os novos capítulos de sua narrativa.
Cidade é feita por nó[s].
Emaranhado.

A ciência é coisa coletiva também, que irradia dos seres. Que sai de nós e sempre volta.
Ela só existe porque a gente existe e porque nos importa. Ciência não é feita e refeita para ficar guardada nos bolsos dos jalecos brancos, mas para sair correndo da clausura dos laboratórios tão logo se sinta pronta para voltar para casa de onde saiu.
Porque ela inteira sempre esteve na gente, ou em volta da gente: doenças, curas, verdades, dúvidas, raridades, estranhezas, respostas. Os fenômenos todos estão em nós, somos nós, ou é o mundo a nosso redor, mesmo quando a gente não vê porque estão escritos em códigos que nos são desvelados por uns curiosos intitulados que não aguentam ver mistério.

É tudo nó[s].

Então pesquisa científica que tenta despir a cidade já nasce com patente quebrada. Já é domínio público mesmo quando ainda é só ideia. É livro aberto que transcreve aquilo que deixamos ser tornado público.
Não foi à toa, portanto, que esse mestrado foi feito a muitas mãos. Dos grandes filósofos alemães até o mais simples conversante de banco de praça. Das complexas e indecifráveis reflexões acadêmicas, até a mais aconchegante das narrativas de mesa de café da tarde.
Do presente até a saudade... foi tudo troca. Tudo coletivo. Tudo, definitivamente, nó[s]

Nos agitadíssimos últimos dois anos fui alimentada de referências bibliográficas, incentivo, amizade, chocolates e bolos de surpresa, compreensão, afeto e admiração - de dentro para fora e de fora para dentro. E o resultado é um monte de páginas de dissertação que, escrita por tantos, serve para me lembrar de que ninguém é um só.

Somos nó[s], afinal.

Acho que é por isso que sempre dizem que ciência é paixão. Porque é soma de vida e amor demais para passar despercebida.

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O título deste texto foi a conclusão do trabalho que entreguei e a frase foi dita da forma mais natural, espontânea e despreocupada por uma das muitas pessoas queridas que fizeram parte da construção desse saber. E ela quer dizer que nós somos árvore e semente: presente, passado e futuro. Nós deixamos nossa marca no mundo e, mesmo que o tempo passe, ela fica e vai entranhar na vida daqueles que virão.
Tomara, então, que estejamos deixando boas marcas.


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