Viagem

Ao tê-lo escancarei um buraco no peito que me esvazia todo dia. Por ele me fogem fôlego, foco, vigor e alguma sanidade. Escapam-me coisas boas que só descobri que me cabiam ao vê-las indo-se e garantindo-me solidão eterna.
Vertendo sempre um pouco, prevejo-me esvair sem perecer até me tornar aquilo que já cria sê-lo.
Também às vezes vem silêncio de lá.
Às vezes meu vazio uiva em dueto com o vento, como quando se deixa a janela aberta em dias de inverno.
Assisto e ouço sem tomar nenhuma ação. Recebo sem saber o que fazer.
Não quero, no entanto, ocupar este vão com o que quer que seja.
Nem contigo.
Apeguei-me.
Ele é também porta aberta para uma saudade e desejos que desconhecia e que me cobrem de riso e suspiro profundo. Que ocupa janelas em estradas e me desperta a vontade de usar dos estratagemas mais criativos para deter sua atenção. Faz-me irreconhecível.
Sua saudade é coisa boa.
É melancolia vivida por gente viva.


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