24 quadros sobrepostos

Ilustração: Caroro

O peito ganha, repentinamente, muito ar até se ver abarrotado e não mais haver espaço para o movimento de inflar e esvaziar. Não se pode mais respirar porque o ar roubou seu lugar.
O pulmão estufa enquanto cada alvéolo comprimido luta pela sobrevivência num desespero ofegante vão.
Sem a respiração a mente começa a contar os segundos que lhe restam até a morte por asfixia. E então ela dá voltas. Por todos os lados, por todos os mundos, por todos os momentos. Como quem repassa a própria vida em seus segundos cinematográficos finais, mas com os quadros sobrepostos, tolhendo o efeito da luz, escurecendo a sala e roubando a clareza das cenas.
Trocando passado com futuro.
Misturando a realidade com a surrealidade artística da confusão de formas.
E tantas mais cenas se sobrepõem, tão menor se torna o espaço de projeção que gradativamente oprime o corpo já tão sem espaço para sobreviver.
Estupora-se.
Com os pulmões ardidos, lotados, dilacerando-se por impotência muscular, com a mente atulhada de informações tão indefiníveis quanto dolorosas, que abandona a sanidade por incapacidade de digerir o mundo real, a glote, num golpe de misericórdia, fecha. Está determinada a dar àquele corpo exausto e insuficiente seu merecido descanso.
Mas ele não morre.
Nem dorme.
Embora exausto.
Continua estuporado e extremamente vivo enquanto arfa.


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