27/08/2007

Há exatos dez anos, nós estávamos nessa situação: meio zonzos depois de ter tido duas horas de aula de Sistemas Estruturais I e empoleirados num auditório desconfortável onde havíamos tido aula de Conforto Ambiental com um professor mau humorado e grosseiro, que dentre várias palavras ditas (cujo significado eu não consegui compreender) ficou dando referências bibliográficas em francês (e dei graças por ter algum domínio do idioma). Estávamos meio zonzos também por ter notado, depois do grito do monitor da disciplina exaltado pelo coro dos veteranos, que os trabalhos rigorosíssimos que foram mencionados e a caríssima lista de materiais não passava de um trote.
(Ok... a lista era, infelizmente, verdadeira. Mas não era para aquela disciplina.)

Há dez anos eu estava vestindo uma camiseta de feira de ciências por cima de uma blusa de manga comprida para enfrentar congelantes 60 minutos de viagem de Nsa Sra do Amparo, partindo de Maricá às 5:20 da manhã rumo ao meu primeiro dia de trote. Na mochila velha eu levava um pijama, conforme solicitado, nenhum caderno (porque por alguma razão esqueci!) uma percepção ambiental desprezível que me levou a chegar atrasada no primeiro dia de aula e um pavor do constrangimento que eu viria a enfrentar nas horas seguintes.

Dei sorte. O constrangimento não veio. No lugar dele, uma recepção calorosa dada por um monte de gente que já parecia muito adequada àquele ambiente que estava mais para um cenário de novela de época do que para aquilo que os filmes americanos disseram que seria um campus universitário. E ainda que minha atual personalidade problematizadora tenha muitas críticas e ressalvas ao trote que recebi, consigo ter a serenidade de ver que ele se propunha apenas a nos apresentar e convidar à nossa nova casa. Eu devia ter notado, já no dia da inscrição, quando fui recebida pelo coordenador do curso com um "Hei!!!! Você eu conheço!" que eu estava entrando num lugar que me acolheria bem com meus vícios íntimos interioranos.

Os dias que se seguiram foram de construção de afinidades, reconhecimento de campo, dinheiro de passagem, almoço na engenharia, bandejão que não tinha suco, Fotolog, Windows XP, Bistrô do MAC, dinheiro de Xerox, jeans de cintura baixa, muita ida ao centro do Rio e uma série de coisas que se nos dedicarmos a refletir a respeito, parecerão perdidas num passado muito distante.
E estão.
São dez anos.
O passado é mesmo um país estrangeiro, e olhar para essa foto é como olhar relíquias de tempos antigos em nações que já se dissolveram: soa muito estranho ao mesmo tempo que faz todo o sentido do mundo.

Quando eu pensei neste texto, eu planejava mencionar a série de transformações que vivi, desde mudança de ambiente urbano e social, amores e lugares que construí, até as transformações de percepção e concepção sobre o mundo e sobre mim mesma. Mas desisti, porque são tantas que não são elencáveis e estão tão enraizadas que são difíceis de perceber. E também porque, na verdade, não é um texto sobre mim. É um texto para dizer que entre dores e amores (e problemas psicológicos, má alimentação e muito sono) passar por essa graduação, da forma como ela aconteceu, era exatamente o que deveria acontecer.

E todos aí da foto, distantes ou próximos, na presença, na empatia ou mesmo na indiferença, trocando perrengues, noites viradas, perda de dignidade ou só mostrando seus trabalhos nas apresentações das aulas têm participação neste contexto. Então valeu, pessoal! Ainda bem que essa maluquice existiu!


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