Eu te queria tanto

E me dediquei tanto para encontrar em mim algo que você pudesse querer, tentei tanto ser alguém com quem você pudesse sonhar e tentei tanto construir em mim alguém para você amar que um dia eu me olhei no espelho e não sabia mais quem estava ali.
Te procurei tanto que me perdi.
E me deixei perdida.

Às vezes eu tinha certeza de que eu era o fardo que você, por sentença, carregava.
Mas eu precisava de você.
Você era quem me resgataria do naufrágio.

Eu me sentia submergindo no oceano que você idealizou para nos cingir, e enquanto eu lutava pela sobrevivência você boiava para cada vez mais distante de mim.
Me debatia atormentada tentando me aproximar e agarrar a primeira parte do seu corpo que estivesse ao meu alcance. No desespero da agitação nasciam ondas.
Fortes...
fracas...
ordenadas...
Às vezes, elas te traziam para perto. Outras vezes te ajudavam a se afastar.
Quando eu ocasionalmente conseguia agarrar alguma parte do seu corpo, eu te notava escapando. Era como se minhas mãos de buscando fossem sua desventura. Se te prendessem talvez te levassem comigo para o fundo.

Eu me debati e gritei tanto quanto pude para você notar que eu estava ficando para trás e parar de fugir de mim. Eu gritei até gastar a voz. Matei minha garganta na tentativa de fazer você ouvir meu sofrimento lancinante.
Com todas as forças eu lutei.
Lutei para trazer você de volta.
Lutei para você ficar por perto.
Lutei para não me afogar sem você.
Lutei para não te perder de vista.
E enquanto eu gritava e esperneava para você me notar e olhar meu peito dilacerado, você boiava sozinho até a praia.
Eu ia morrer ali, apesar de ter tentado tanto - mas tanto! - me manter viva e te manter por perto.
Ia me afogar implorando pela sua piedade e amor. Implorando que me salvasse de você.

E você foi.

E eu morri usando todas as minhas forças para não deixar você partir.


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