Noite

Passo após passo, o sopro do vento é cada vez mais frio e o uivo cada vez mais audível.
O corpo aquece, mas o sangue parece ficar mais frio e a carne mais rígida. E embora os batimentos cardíacos fiquem mais agitados, os movimentos vão ficando mais lentos.
Todo espaço que rodeia o corpo enrijecido que carrego se torna próprio para pousar, ainda que impróprio para embalar o sono.
Inspirar.
Ao olhar sobre o ombro se tem a revelação das horas de caminhada, comprovadas pelas pegadas deixadas no solo. Dias de peregrinação até chegar a este meio de caminho, ponto em que prosseguir é difícil, mas voltar parece impossível.
Do cansaço se extrai a certeza de que a madrugada em breve se tornará dia, e então ficará mais fácil continuar a caminhada. A única escolha possível.


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