Imagem: arte em foto de greenie11* |
Sua vida é estar pronta para acalmar os corações alheios com ternura, roubando suas dores para si e concentrando-as nos músculos e nos pés que - e a plateia nem desconfia - se sustentam em alguns centímetros de gesso duro.
Ela é aquilo de intangível, meio fada, meio anjo, que vai alimentar todo um teatro de paixão, até que o último espectador se levante levando para a casa a doçura que, executada com amor incondicional, mascarou um tanto de martírio durante três atos.
Todos os dias.
E em todos eles, um passo mais próximo da perfeição.
Mas toda bailarina um dia tem de pendurar as sapatilhas. O corpo não suporta dançar para sempre.
É preciso descansar aquilo que o público não pode ver. É preciso dar paz à carne, aos ossos, à pele calejada. Desmanchar o sorriso eterno. Ser humana, finalmente.
Ainda que ninguém perceba, seus braços doem exaustivamente durante o adagio final e todos os seus movimentos carregam um tanto mais de sacrifício.
Na última coreografia, enquanto a casa se distrai, ela prende a respiração por mais alguns segundos e encerra a fantasia com o sorriso elegante e os gestos delicados com os quais conduziu toda a encenação: reverence.
Flores.
Cai o pano. Agora pode respirar aliviada.
Fim do espetáculo.
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