Fish eye


Foto: Through the healing lens     

Céu azul muito vivo ainda, apesar de já estar em vias de despedir-se naquela preguiça pré pôr-do-Sol. O vento desfila constante, sem pressa e com êxito em levar embora o pouco calor que o sol, já fraco, consegue derramar na pele das pessoas que ainda ficam. Ondas quebram bem decididas, mas lambem o solo com a espuma correndo cansada, assim, lenta como as palavras de um que, ao longe, bebe demoradamente sua cerveja. A água traz o cheiro da maresia.
E eu - com as mãos alisando a areia grossa e fofa, a cabeça recostada no travesseiro natural preparado com cuidado, o corpo muito relaxado e a mente quase perdida - observo o tempo, sem pensar que ele passa.
Por alguns minutos tudo para. Até mesmo a tarde, se arrastando e partindo devagar rumo ao horizonte para como se posasse para uma foto. Durante estes calmos minutos, antecedentes ao crepúsculo, o tempo parou. Ficamos só o vento e eu, com a cabeça mirando para o alto, observando como numa lente olho-de-peixe este céu desmedido e forte, me envolvendo com suas nuvens ralas.

A vida parou junto com o tempo. As poucas pessoas ao redor não se movem. Não há sons. Não há pensamentos. Não há nada além desta paz, deste silêncio e destas nuvens se movendo em círculos através das minhas lentes.
Por estes poucos minutos não senti pressa. Não senti meus pensamentos e não percebi minha própria existência. Nem mesmo meditei meu sossego. Tudo ficou pleno, parado e preguiçosamente vivo, já se despedindo. Quase bocejando um boa noite.
Quase bocejando um "até a próxima".

Até a próxima, paz. O Sol se põe e a vida tem de começar.


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